domingo, 24 de julho de 2016

O RETORNO DOS “ADULTOS EM MINIATURA”

O RETORNO DOS “ADULTOS EM MINIATURA”

Sabe-se que no decurso da história a visão sobre a criança e a infância foi sofrendo diferentes alterações.  Na Idade Média não se tinha a visão da criança e do desenvolvimento, na Revolução Industrial a criança trabalhava como um adulto. Como se vê, a criança por muito tempo era vista como um adulto em miniatura, era vestida, tratada como tal.
As crianças brasileiras da atualidade parecem estar vivendo algumas regressões históricas, pois apesar de ter leis que as amparam, não possuem referências infantis que sublimem as referências adultas, e em alguns campos sociais, apenas reproduzem o consumismo, num esquema tipicamente adulto.

As imagens abaixo sugerem crianças vestidas sem a distinção das roupas adultas e infantis, bem como comportamentos tais, mesmo que em diferentes épocas: passado e presente.



Fonte: google imagens

Atualmente vive-se um período em que as crianças não têm referências infantis em diversos campos da sociedade. As referências musicais e artísticas estão ligadas mais ao mundo adulto que ao mundo infantil. Lembro que em um tempo, não tão distante, as crianças tinham como referência a Xuxa, Eliana, Ursinhos carinhosos,  e alguns poucos programas de luta, como Power Rangers, T-flash, Cavaleiros do zodíaco, raros se comparados à gama atual em que os “super-poderes” estão ligados à violência ou esperteza de personagens.

As crianças estão mergulhadas em um rio de músicas com temas adultos e sexuais, funk com letras que não parecem muito apropriadas para a idade a que pertencem, os programas televisivos exaltam a beleza para o feminino, o consumismo, e  assim, as informações vão sendo disseminadas sem o menor cuidado e sem levar em consideração o desenvolvimento natural da criança, que acompanha e canta certas letras de músicas sexualmente acentuadas, sem entender o que estão cantando.
Os adultos da sociedade atual brasileira não estão levando em consideração o universo infantil, o caráter do brincar e da inocência, atropelando tudo ou simplesmente permitindo que ideias comerciais contaminem os filhos. Os pais que tentam se opor a este sistema ilusório da imagem infantil capitalista e improdutiva parecem nadar sozinhos contra uma forte correnteza e enxurrada de contaminação cerebral infantil e falta de consideração com os menores.

As fontes de contaminação são diversas e permissivas, não raro se vê crianças com menos de três anos tendo total domínio de aplicativos em celulares, tablets, internet, sem a supervisão de adultos, que a meu ver parecem mais “descansados” quando têm a chance de manter crianças “superativas” muito ocupadas com estes aparelhos. A preocupação com os malefícios que estes podem causar parece nula. Conheço crianças e adolescentes que ganham dos pais celulares hipermodernos para passarem madrugadas em jogos e sabe-se lá o que, enquanto os pais dormem, mas que ao amanhecer precisam trabalhar despreocupados por deixar estas crianças e adolescentes dormindo uma manhã inteira, e a tarde ir para a escola, e, isto tudo facilita muito a vida dos pais que podem ter mais “tranquilidade”, porque é melhor que seus filhos fiquem nestes aparelhos a que sair pelas ruas... como se as ruas fossem muito mais perigosas que o conteúdo de alguns aparelhos, numa doce ilusão. O desempenho fraco na escola pelas noites mal dormidas de alguns adolescentes que preferiram os games e aplicativos a dormir, parece não ser preocupação.
Não digo que a tecnologia não tenha benefícios, ao contrário, são muitos benefícios se bem utilizados. No entanto, critico a falta de responsabilidade social com estes pequenos seres humanos, que definem o futuro do nosso país: as crianças.
Como exigir que uma casa seja segura se a sua base foi mal construída? Como exigir cidadãos críticos e mudanças sociais se a base (que são as crianças) não estão sendo bem cuidadas?

Um documentário bem interessante sobre isso, é intitulado “O COMEÇO DA VIDA”: https://www.youtube.com/watch?v=K93pR1z9jz0. Faz uma reflexão sobre diversas famílias e as crianças, bem como sobre o que a sociedade deve preocupar-se em primeiro lugar.

Até quando assistiremos nossas crianças sendo bombardeadas por programas e projetos que não levam em consideração o universo infantil e sim o universo capitalista, comodista e consumista? Porque não há mais preocupação com as crianças e as referências culturais, morais, éticas que deveriam ser plantadas desde cedo em suas vidas? Porque nos espantamos tanto em assistir a tantas barbáries praticadas por crianças na sociedade, filhos matando pais, roubando carros, assaltando pessoas? As respostas parecem não estar tão longe ao alcance, mas os dilemas parecem estar distantes de serem resolvidos.

Por: Katia Fraitag