O RETORNO DOS “ADULTOS
EM MINIATURA”
Sabe-se que no decurso
da história a visão sobre a criança e a infância foi sofrendo diferentes
alterações. Na Idade Média não se tinha
a visão da criança e do desenvolvimento, na Revolução Industrial a criança trabalhava
como um adulto. Como se vê, a criança por muito tempo era vista como um adulto
em miniatura, era vestida, tratada como tal.
As crianças brasileiras
da atualidade parecem estar vivendo algumas regressões históricas, pois apesar
de ter leis que as amparam, não possuem referências infantis que sublimem as
referências adultas, e em alguns campos sociais, apenas reproduzem o
consumismo, num esquema tipicamente adulto.
As imagens abaixo
sugerem crianças vestidas sem a distinção das roupas adultas e infantis, bem
como comportamentos tais, mesmo que em diferentes épocas: passado e presente.
Fonte: google imagens
Atualmente vive-se um
período em que as crianças não têm referências infantis em diversos campos da
sociedade. As referências musicais e artísticas estão ligadas mais ao mundo
adulto que ao mundo infantil. Lembro que em um tempo, não tão distante, as
crianças tinham como referência a Xuxa, Eliana, Ursinhos carinhosos, e alguns poucos programas de luta, como Power
Rangers, T-flash, Cavaleiros do zodíaco, raros se comparados à gama atual em
que os “super-poderes” estão ligados à violência ou esperteza de personagens.
As crianças estão
mergulhadas em um rio de músicas com temas adultos e sexuais, funk com letras
que não parecem muito apropriadas para a idade a que pertencem, os programas
televisivos exaltam a beleza para o feminino, o consumismo, e assim, as informações vão sendo disseminadas
sem o menor cuidado e sem levar em consideração o desenvolvimento natural da
criança, que acompanha e canta certas letras de músicas sexualmente acentuadas,
sem entender o que estão cantando.
Os adultos da sociedade
atual brasileira não estão levando em consideração o universo infantil, o
caráter do brincar e da inocência, atropelando tudo ou simplesmente permitindo
que ideias comerciais contaminem os filhos. Os pais que tentam se opor a este
sistema ilusório da imagem infantil capitalista e improdutiva parecem nadar
sozinhos contra uma forte correnteza e enxurrada de contaminação cerebral
infantil e falta de consideração com os menores.
As fontes de
contaminação são diversas e permissivas, não raro se vê crianças com menos de
três anos tendo total domínio de aplicativos em celulares, tablets, internet,
sem a supervisão de adultos, que a meu ver parecem mais “descansados” quando têm
a chance de manter crianças “superativas” muito ocupadas com estes aparelhos. A
preocupação com os malefícios que estes podem causar parece nula. Conheço
crianças e adolescentes que ganham dos pais celulares hipermodernos para
passarem madrugadas em jogos e sabe-se lá o que, enquanto os pais dormem, mas
que ao amanhecer precisam trabalhar despreocupados por deixar estas crianças e
adolescentes dormindo uma manhã inteira, e a tarde ir para a escola, e, isto
tudo facilita muito a vida dos pais que podem ter mais “tranquilidade”, porque
é melhor que seus filhos fiquem nestes aparelhos a que sair pelas ruas... como
se as ruas fossem muito mais perigosas que o conteúdo de alguns aparelhos, numa
doce ilusão. O desempenho fraco na escola pelas noites mal dormidas de alguns
adolescentes que preferiram os games e aplicativos a dormir, parece não ser
preocupação.
Não digo que a
tecnologia não tenha benefícios, ao contrário, são muitos benefícios se bem
utilizados. No entanto, critico a falta de responsabilidade social com estes
pequenos seres humanos, que definem o futuro do nosso país: as crianças.
Como exigir que uma
casa seja segura se a sua base foi mal construída? Como exigir cidadãos
críticos e mudanças sociais se a base (que são as crianças) não estão sendo bem
cuidadas?
Um documentário bem
interessante sobre isso, é intitulado “O COMEÇO DA VIDA”: https://www.youtube.com/watch?v=K93pR1z9jz0.
Faz uma reflexão sobre diversas famílias e as crianças, bem como sobre o que a
sociedade deve preocupar-se em primeiro lugar.
Até quando assistiremos
nossas crianças sendo bombardeadas por programas e projetos que não levam em
consideração o universo infantil e sim o universo capitalista, comodista e
consumista? Porque não há mais preocupação com as crianças e as referências
culturais, morais, éticas que deveriam ser plantadas desde cedo em suas vidas? Porque
nos espantamos tanto em assistir a tantas barbáries praticadas por crianças na
sociedade, filhos matando pais, roubando carros, assaltando pessoas? As
respostas parecem não estar tão longe ao alcance, mas os dilemas parecem estar
distantes de serem resolvidos.
Por: Katia Fraitag